Capítulo 4 – A Mulher do Espelho (Cena: Ela sorri. E some.)
No capítulo 4, Kael confronta um dos momentos mais espiritualmente intensos da sua jornada: diante de um antigo espelho velado, ele vislumbra a figura de uma mulher – a enigmática “mulher do espelho” – que parece ser ao mesmo tempo uma lembrança amada e uma promessa do que está por vir. A cena “Ela sorri. E some.” representa o clímax desse encontro simbólico. Inicialmente, o espelho estava embaçado e coberto por um véu, simbolizando verdades que Kael resistia em encarar: a dor de um amor perdido e a espera angustiada por algo que jamais se concretizou.
Ao limpar o espelho e remover o véu, ele espera ver apenas seu reflexo, mas o que surge é a imagem daquela mulher serena e luminosa, olhando-o com ternura do outro lado do espelho. Kael sente o coração acelerar – é como se encarasse o fantasma delicado de tudo que sonhou, mas nunca viveu plenamente. Nesse instante carregado de emoção, compreende a lição profunda que a Casa Azul lhe sussurra: era seu apego à forma específica de amor que o mantinha aprisionado a essa visão inalcançável.
Com lágrimas contidas, Kael deixa brotar dos lábios palavras que libertam ambos: “Eu sou amor… mesmo se você não voltar.” Ao afirmar que seu amor independe da presença ou retorno dela, ele rompe as correntes invisíveis da espera. O efeito é imediato e quase mágico: o trinco invisível do espelho se solta com um estalo suave, como se uma barreira entre mundos caísse.
A mulher do espelho então sorri para ele – um sorriso que pode ser lido tanto como gratidão e despedida pelo passado, quanto como um gesto delicado de permissão para que o futuro agora chegue. Ela desaparece lentamente, dissolvendo-se na superfície translúcida. Kael não sente tristeza nesse adeus simbólico, mas uma profunda paz e certeza em seu peito.
Nesse exato momento, o que parecia impossível torna-se possível: ao liberar o apego e as expectativas passadas, ele cria espaço fértil para a chegada de um amor real, possível, inteiro. Kael percebe que o amor verdadeiro nunca dependeu de alguém ficar; ele floresce em liberdade dentro de nós. Com linguagem quase poética, o trecho emociona e inspira: vemos o protagonista libertar-se do medo da solidão e da negação de si, transcendendo a dor da perda, abrindo finalmente espaço para um amor presente, palpável e consciente.