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Capítulo 9 – O Jardim dos Nãos Vividos (Cena: As Flores Que Nunca Desabrocharam)

No penúltimo capítulo, Kael atravessa um jardim etéreo dentro da Casa Azul – um lugar mágico onde se revelam todas as possibilidades que nunca chegaram a florescer em sua vida. A cena “As Flores Que Nunca Desabrocharam” pinta um panorama comovente: em canteiros silenciosos, ele vê botões eternamente fechados, flores pálidas que jamais se abriram para o sol. Cada flor não desabrochada representa um amor que não vingou, um sonho que ele adiou, uma alegria que morreu na praia do tempo. Caminhando por esse jardim dos “nãos vividos”, Kael sente o coração apertar. Ali também estão presentes cartas que nunca foram escritas, espalhadas como folhas secas pelo chão – palavras de afeto e perdão que ele pensou em dizer, mas calou. Vê um banco vazio sob uma árvore, simbolizando encontros que ele esperou mas nunca aconteceram, e uma ponte inacabada sobre um riacho seco, indicando caminhos que ele não teve coragem de atravessar. Todo o cenário exala uma nostalgia agridoce. Kael percebe o peso invisível que carregou por tanto tempo: o peso dos arrependimentos e das fantasias do “e se…”. À medida que ele avança, porém, algo dentro dele começa a mudar. Em vez de tristeza sufocante, o que surge é uma profunda compreensão. Ele ajoelha-se diante de um canteiro de flores fechadas e, com infinita gentileza, aceita que nem todas as sementes lançadas na vida germinam – e isso também é parte da perfeição da jornada. Nesse momento de aceitação, o ar do jardim parece ficar mais leve. Kael fecha os olhos e respira fundo, quase sentindo o perfume sutil do que poderia ter sido misturar-se ao ar do que ainda pode ser. Ele intui que precisa liberar aquelas possibilidades não realizadas, deixá-las em paz, para que a vida continue fluindo. Ao abrir os olhos novamente, Kael nota um pequeno milagre: uma única pena azul-turquesa caiu do céu e pousou entre as flores cerradas. Essa pena azul, leve como esperança, não pertence a nenhum pássaro conhecido – é como se o próprio universo a tivesse depositado ali, marcando um novo começo. Kael toma a pena nas mãos e sente uma vibração suave, quase uma voz silenciosa dizendo: “Sou o que você ainda pode ser. Sou o amor que ainda não nasceu. Sou o voo que só começa quando você deixa o chão do passado em paz.” Com a pena sobre o coração, ele se põe de pé e diz baixinho: “Estou pronto.” Nesse ato de soltar o passado, o jardim inteiro parece suspirar aliviado. As flores não desabrochadas continuam fechadas – elas pertencem a outro tempo que não volta – mas a atmosfera deixou de ser de luto. Agora, aquelas não-vidas foram honradas e libertas. Kael sente uma leveza nova nos ombros. Ele já não carrega mais o peso do que não viveu; carrega apenas a leveza de quem sabe que a vida verdadeira começa quando paramos de fugir daquilo que fomos e do que perdemos. Essa cena emociona profundamente porque toca num ponto universal do sofrimento humano: os arrependimentos e anseios pelo que não aconteceu. O leitor, acompanhando Kael, quase chora ao reconhecer suas próprias “flores não desabrochadas” – mas também sente a mesma brisa de alívio quando Kael compreende que não se pode mudar o passado, apenas aprender com ele. A razão absorve a sabedoria de que tudo tem seu propósito – até as ausências – e o coração se conforta com a ideia de que o futuro reserva novos florescimentos, desde que abramos mão do apego aos jardins do ontem. Ao sair desse Jardim dos Nãos Vividos, Kael está em paz consigo mesmo. Ele integrou suas perdas e sonhos frustrados, e com isso abriu espaço interno para promessas novas, leves como aquela pena azul, que convidam a continuar vivendo e amando sem as correntes do passado. O leitor sente, nesse ponto, uma antecipação esperançosa – há muito mais vida e amor esperando por Kael, e por nós, logo além das últimas páginas.

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